domingo, 26 de setembro de 2010

As lições da figueira

Passou um dia desde a entrada triunfal do Senhor em Jerusalém. O Senhor vai saindo agora de Betânia, e tem fome. Então vê uma figueira, mas não encontra frutos nela, a não ser folhas. Então o Senhor a amaldiçoa, embora não seja tempo de figos (Mar. 11:12-14). É, sem dúvida, uma resposta surpreendente a do Senhor. Por isso, esta passagem foi interpretada de diversas formas. Provavelmente todas elas tenham o seu valor e aplicação. Mas vejamos o que nos diz hoje.
 
Deus representa na figueira o seu povo. Primeiro Israel, e também, em algum sentido, a nós. No que? As folhas dão um bom aspecto a uma árvore. Elas formam uma folhagem atrativa à vista. Pode ser tão agradável que um pintor poderia se inspirar nela para criar um grande quadro. Ou pode ser motivo para que um poeta escreva um maravilhoso poema. Este é o valor visual, estético, de uma figueira. Mas na hora que se tem fome, as folhas de nada servem.

A figueira cheia de folhas, mas sem fruto, é uma vida com uma religiosidade externa, sem vida interior. A vida cristã pode transformar-se às vezes em um assunto decorativo, em uma expressão farisaica, externa, de moral e bons costumes, ou de um correto ensino 'formal' para os filhos. Pode ser um são costume, ou uma tradição transmitida de pais para filhos, mas se for só isso, é como uma figueira com folhas, mas sem figos.
O Senhor Jesus foi muito severo com os fariseus por motivo de eles terem apenas uma aparência exterior, mas sem vida interior. Comparou-os a sepulcros caiados, que por fora luzem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos. Ou como um copo limpo por fora, mas sujo por dentro. "Vós por fora vos mostrais justos aos homens, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e iniqüidade" (Mt. 23:28).

A função primitiva da figueira é alimentar, assim como a do sal é salgar, e a da luz, iluminar. Assim, a função primitiva do cristão é ser uma chama no meio de um lugar escuro, uma chama que não só ilumina, mas também arde (ver João 5:35). Não só com brilho exterior, mas também com um compromisso interior. O cristão é chamado para dar fruto para Deus: "Vos tenho posto para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça" (João 15:16).

O cristão não só deve dar fruto ocasionalmente (como a figueira), mas sim em todo tempo. Isso é o que nos diz o fato de que o Senhor tenha amaldiçoado a figueira apesar de que não fosse tempo de figos. Folhas ou figos? Aparência ou obras de verdadeira justiça?
 
Este episódio da figueira nos ensina também que existe fome espiritual, que existem necessidades para atender. Em tal caso, de nada serve um cristianismo estético, inútil, mas um eminentemente prático. Os homens têm sede, e só podem lhes dar de beber quem tem um rio fluindo dentro de si. Os homens têm fome, e só podem lhes dar de comer quem tem frutos, e não folhas. São as lições da figueira para nós, hoje.